Redes sociais vs. fake news: como uma fotografia da mãe de Cristiano Ronaldo gerou notícias falsasRedes sociais vs. fake news: como uma fotografia da mãe de Cristiano Ronaldo gerou notícias falsas

Redes sociais vs. fake news: como uma fotografia da mãe de Cristiano Ronaldo gerou notícias falsasRedes sociais vs. fake news: como uma fotografia da mãe de Cristiano Ronaldo gerou notícias falsas

 

“Foi incrível!”. Provavelmente a expressão mais usada para descrever viagens de amigas, sobretudo se o motivo for uma despedida de solteira. Já passaram uns dias e continuo a achar incrível o que nos aconteceu – um momento genuíno, vindo do acaso, acabou numa especulação generalizada na imprensa portuguesa, espanhola e até cubana.

Já tínhamos percorrido 100 quilómetros na carrinha de nove lugares que alugámos para viajar até Madrid quando parámos, pela primeira vez, na estação de serviço de Montemor-o-Novo, ainda antes da fronteira. Vestidas a rigor – as amigas com uma tshirt com orelhas da Minnie que identificava a Team Bride, a noiva com a sua própria Minnie, vestida de noiva – percebemos que os sorrisos e os comentários de quem nos via começariam ali, mas faziam parte do espírito da viagem. A caminho do café passamos por um grupo e algumas de nós percebem que Dolores Aveiro, mãe de Cristiano Ronaldo, fazia parte dele. A noiva, fã incondicional do Ronaldo e da família Aveiro, não resiste a cumprimentar a senhora, que não podia ter sido mais simpática connosco. Depois de trocarmos umas palavras, pedimos para tirar uma fotografia. Antes, ainda temos tempo de ir buscar uma imagem de Ronaldo que tínhamos trazido no carro. A própria Dolores Aveiro surpreende-nos, fazendo questão de tirar uma fotografia do grupo todo para publicar na sua conta de Instagram.

Agradecemos, despedimo-nos e seguimos viagem, comentando a euforia deste acaso e a simpatia da mãe do craque. À boa maneira dos nossos tempos, já tínhamos comentado a história com os amigos que tinham ficado em Lisboa e se deliciavam com os comentários imediatos dos seguidores de Dolores Aveiro.

Mas o tema ficava por ali, pelo Instagram, ou pelo menos assim pensávamos. Pouco depois, chega-nos o link, da primeira de muitas notícias que surgiriam sobre o tema. “Dolores “leva” CR7 para todo o lado…até para as despedidas de solteira”, ou “A matriarca da família Aveiro está a caminho de uma despedida de solteira, algo que rapidamente criou burburinho nas redes sociais devido aos rumores de que Cristiano Ronaldo e Georgina Rodríguez estariam noivos”.

Títulos das notícias em Portugal

Títulos das notícias em Portugal

Era certo e evidente, para os meios portugueses, que Dolores Aveiro tinha partido para uma despedida de solteira. Os meios espanhóis foram ainda mais longe. A Vanity Fair e a GQ veem Georgina, a namorada de Ronaldo, na foto, mas não entendem o porquê das tshirts “Team Brea”, que na verdade é “Bride”. Em Cuba, o Ciber Cuba, como não vê Georgina, questiona se será mesmo a sua despedida de solteira.

Notícias em Espanha

Notícias em Espanha

Ninguém nos contactou para perceber a história – e com a pegada digital que se criou, não teria sido difícil descobrir uma de nós através das redes sociais.

Enquanto lidávamos com o espanto perante o que líamos, questionámo-nos sobre o que pensaria Dolores Aveiro de tudo aquilo. Que fronteira ténue é esta entre as redes sociais e as fake news, bastando uma foto para gerar uma especulação que se espalha por três países – em forma de notícia? A mãe de Ronaldo não reagiu. Provavelmente, porque já está habituada aos efeitos das suas publicações.

Na verdade, o que aconteceu a Dolores Aveiro pode acontecer a qualquer pessoa ou empresa com um número considerável de seguidores. Nunca é demais lembrar que somos todos – empresas, marca, pessoas – tão hipervulneráveis quanto hiperconectados. Quando estamos descontraídos, no meio de uma brincadeira, é fácil não nos lembrarmos das consequências de uma publicação numa conta com 1 milhão e 400 mil seguidores. Mas o risco da guerra pelos cliques se sobrepor ao critério jornalístico está sempre lá.

Artículo elaborado por María Eça.